O que dizer dum político, que para se eleger governador criou inimizade com figuras antigas e ainda muito fortes dentro de seu partido, que tem a sua administração avaliada como ruim ou péssima por 51% da população, como aponta o Ibope na sua pesquisa publicada pela TV Globo e pelo jornal O Estado de São Paulo em novembro? Que estaria em declínio na sua carreira pública? Parece loucura, mas é exatamente o contrário, João Doria se encontra em ascensão e tem grandes chances de se tornar o presidente eleito em 2022, por quê? Ora, a vida é bem mais fácil, quando se tem um adversário político como Jair Bolsonaro.
Uma simples metáfora poderia explicar a situação; dois exploradores se situam perdidos na floresta, quando de súbito são surpreendidos pela imagem nefasta dum urso, um deles já desesperançoso se põe de joelhos e começa a rezar, afinal Deus estaria acima de todos, o outro entoa a tirar as botas para principiar uma corrida, interpela-lhe o primeiro explorador, “Você vai tentar fugir?! É inútil, você nunca vai conseguir correr mais que o urso!”, o companheiro responde, “Eu não preciso correr mais rápido que o urso, preciso correr mais rápido que você”. Essa é a exata conjunção de João Doria, ele sabe que a pandemia há de complicar as ações pretendidas em seu governo, tornando-lhe impopular, como já o faz, porém não é necessário ser o gestor perfeito, bancar o Winston Churchill, uma via muito mais fácil se lhe abriu, basta fazer melhor que uma figura mais abjeta que a de si, a de Jair Bolsonaro, seu principal opositor. Enquanto a covid os encalça, Doria iniciou a corrida pela vacina, já Bolsonaro resta de joelhos a pedir pela cura intangível de remédios para lúpus ou piolhos.
O atual governador de São Paulo está longe de ser um político confiável, Geraldo Alckmin que o diga, e ainda mais distante de demonstrar ser alguém interessado no que é o melhor para a população, tendo sempre uma visão simplista e empresarial sob a égide de problemas sócio-políticos demasiado complexos para tal, e que exigem ou exigiam enxergar muito além da viseira que lhe põe a inestimável busca pelo capital; basta relembrar, de quando ainda era prefeito, como Doria decidiu “resolver” a questão da Cracolândia. Contudo, o neo-tucano tem tudo para fazer valer a imperiosa força da “Lei do menos pior” sempre instante na política, especialmente a brasileira.
Somente a ignomínia vil, de quem nega a ciência e endeusa "pensadores" terraplanistas, o desleixo, a incompetência dum governo que durante a maior crise sanitária da história mundial, passou meses sem sequer ter um ministro da saúde, só a total inabilidade administrativa de Jair Bolsonaro poderia fazer um sujeito como João Doria, um político fraco que mal se sustentaria numa tentativa de reeleição estadual, num favoritissímo presidenciável, pondo-se até num patamar próximo ao de Oswaldo Cruz. É claro que é mui cedo para afirmá-lo, entretanto se o governador paulista conseguir aprovar a vacina, fará história e um fator histórico como esse, ser o portador da solução para o mal do século no Brasil, obviamente possui enorme peso político, vale a pena rememorar que Fernando Henrique Cardoso foi eleito por margem devastadora graças ao Plano Real; um evento como a vacinação da doença que parou o mundo seria algo ainda mais estrondoso.
A CoronaVac, já chamada de “a vacina do Brasil”, numa clara estratégia de Doria em fazer um apelo nacional, entonando a sua campanha em 2022, não só é eficientíssimo cabo eleitoral, bem como permite ao neo-tucano um leque vasto de alianças políticas, afinal qualquer governador ou prefeito que tenha o mínimo de astúcia e queira vacinar a sua população logo, sem depender da indecisão do governo federal, terá que no mínimo ser gentil e manter boa relação com João Doria. Há ainda o pilar mais forte de todos que favorece o tucano nesta guerra política, Doria tem ao lado de si não uma ideologia, mas a ciência, a atitude ignobilmente quixotesca de politizar fatos, optada por Bolsonaro, é o que mais fortalece o governador de São Paulo, isto é, qualquer cidadão com o mínimo de senso, por mais que duvide dos escrúpulos de Doria, é obrigado a dar-lhe o braço a torcer; a CoronaVac pode representar a canonização dum político desastroso, e fará com que mesmo aqueles que não reconheçam a sua santidade, vejam-no como um “diabo necessário”.
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