A pandemia gerada pelo coronavírus talvez seja o período mais caótico em escala global na história humana, propiciando efeitos deveras destrutivos não só em relação à área sanitária, como também graves consequências sociais. O BBC World Service no seu podcast diário de notícias, Africa Today, trouxe na edição da última quarta-feira, 21 de janeiro, uma análise, feita por Tabitha Mwangi, doutora da Universidade de Cambridge, especialista em saúde pública, sobre a situação das trabalhadoras sexuais no Senegal.
O governo senegalês estabeleceu regras bem restritas de quarentena desde o início da infestação do vírus no país, medidas como toque de recolher e fechamentos comerciais, com a maior parte dos clubes noturnos, boates, ou qualquer outro estabelecimento do gênero sendo fechada, consistem nos aspectos que diminuíram consideravelmente o plantel de clientes dessa linha de trabalho informal. Estudos apontam que na capital, Dakar, a esfera de clientes reduziu-se em drásticos 70% durante o período pandêmico, com uma queda de 50% na renda dessas mulheres.
Os efeitos dessa crise resultam no aumento dos índices de transmissão de DSTs, como a SIDA, no país, pois na busca de aumentar seus ganhos, com um número reduzido de clientela, as prostitutas estão cada vez mais suscetíveis a aceitar sexo sem preservativo, que é mais caro. A doutora Mwangi ainda aponta que ¾ das infecções por SIDA em homens no continente africano são resultado de relações com trabalhadoras sexuais.
O grande problema é que mesmo com a erradicação do covid, os reflexos pós-pandemia da crise financeira que assola não só o Senegal, mas todo o globo, tornarão esse quadro difícil de reverter, afinal essas profissionais ainda terão de se arriscar em práticas mais temerárias, e pior, durante a quarentena os clientes são poucos, num cenário sem o coronavírus estarão em maior número e mais acostumados a pedir por relações desprevenidas, o que pode incidir num aumento ainda maior de contaminação por DSTs.
O ponto central de toda essa questão resta no fato do Estado senegalês inoficiosamente se recusar a incluir as trabalhadoras sexuais nos seus programas governamentais de auxílio emergencial, uma estigmatização que certamente custará caro ao sistema de saúde nacional, que tem mostrado, nas suas precárias condições, lidar bem com o covid-19. Em meio a maior crise sanitária mundial os governantes ao redor do planeta, ainda sim, demonstram não ter aprendido a grande lição que poderia ser extraída dessa tribulação, se alguém estiver desprotegido, então todos estarão expostos.
Reportagem completa:
https://www.bbc.co.uk/sounds/play/p094ph8z
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